A Semente da Mulher
Nascer da semente da mulher, significava que o Messias nasceria sem concepção de homem. E como prova disto era necessário que Ele fosse gerado no ventre de uma virgem (Is 7.14).
Mas a promessa dizia respeito a um reino mundial, que seria dado à descendência Davídica. Por isto era necessário também que a virgem fosse desposada com um descendente de Davi, uma vez que a descendência em Israel era transmitida pela casa paterna.
É por isto que, apesar de Jesus ter sido gerado no ventre de Maria, sem concepção de homem (Mt 1.18; Lc 1.35), contudo na genealogia traçada por Lucas, o nome de Maria não figura, mas sim, o nome de José (Lc 3.23).
Isto porque as linhagens eram traçadas pela descendência paterna, e embora ele não fosse o pai biológico, mas do ponto de vista jurídico, a filiação paterna de Jesus pertencia a José, que por escolha de Deus, era o marido de Maria (Mt 1.19-25; Lc 4.22; Jo l.45; 6.42).
E a importância disto está em que, sendo Jesus o filho primogênito do casal (Mt 1.25), e sendo José da tribo de Judá e de descendência Davídica (Lc 1.27; Mt 1.20), através dele Jesus tornava-se legalmente herdeiro do trono de Davi (Lc 1.32; Is 9.7; 2 Cr 21.3), podendo portanto ser consagrado Rei dos Judeus (Lc 1.33). (Esta foi a causa da sua condenação - Lc 23.2,3).
Portanto a Bíblia mostra que pelo casamento de Maria, Jesus tornou-se filho legítimo de José e consequentemente herdeiro do trono Davídico, ou o Messias prometido.
Já com relação à genealogia de Maria, a Bíblia não faz nenhuma declaração direta sobre o assunto. Sabemos que pelo casamento, ela pertencia à tribo de Judá, porque toda mulher ao casar adquiria o nome do marido, e passava a fazer parte da linhagem dele (Is 4.1; Rt 1.1,2; 2.1; 4.13-17).
Assim, sob o aspecto legal, Maria pertencia à linhagem de Davi, uma vez que era casada com um descendente Davídico. Isto está evidenciado em Lc 2.4,5, onde está declarado que José foi alistar-se em Belém porque era da casa e família de Davi (vs 4); e Maria foi alistar-se com ele, porque era sua mulher (vs 5).
Grande parte dos eruditos afirmam que Maria também era de descendência Davídica, porque em Rm 1.3 está escrito que Jesus "nasceu da descendência de Davi segundo a carne", e em At 2.30, Pedro relembra a promessa de Deus a Davi, que "do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono."
Entretanto, tais afirmativas eram sempre citadas para deixar claro que Jesus era o Messias prometido. E sob este aspecto, a primazia era dada a José, porque os judeus só reconheceriam a linhagem paterna para os efeitos da herança do trono.
Mesmo que saibamos que o Reino Messiânico será instituído por Deus, não podemos esquecer que Ele vela para cumprir com a sua Palavra (Jr 1.12), e a palavra profética dada a Israel, é que o Messias se sentaria no trono de Davi.
Desta maneira, ainda que Maria tenha sido descendente de Davi, este fato de nada valeria para tornar Jesus o Rei de Israel, pois a sucessão real era dada sempre pela linhagem paterna.
Isto pode ser observado na genealogia apresentada por Mateus (Mt 1.1-16). Ali, embora figurem os nomes de algumas mulheres, sendo duas delas de nações gentílicas, como o caso da moabita Rute, e da cananita Raabe (Mt 1.5), contudo os filhos delas gerados foram contados na tribo de Judá, e isto porque era considerada apenas a linhagem paterna para efeito de descendência.
Alguns eruditos sustentam que a genealogia de Jesus traçada por Lucas (Lc 3.23-38), refere-se à linhagem de Maria, que teria vindo do tronco de Natã, um dos filhos de Davi e de Bate-Seba. Afirmam eles que o Heli que é apresentado na referida genealogia, como sendo o pai de José, era na realidade o seu sogro, ou seja, o pai de Maria. Mas não há um só caso na Bíblia onde uma genealogia seja apresentada pela linhagem materna, uma vez que as genealogias apontam os cabeças de heranças, e estas são contadas nas linhagens paternas (veja Nm 27 1-11; 36.1-13).
Por sermos da mesma opinião, transcrevemos abaixo, um parecer sobre a matéria, publicado na Enciclopédia O. S. Boyer, 8ª Edição, págs. 290 e 29l, Ed. Vida, escrito por Lord Hervey, reconhecido como uma das maiores autoridades sobre genealogia:
"Ao examinar a genealogia de Mateus, para ver quando se rompeu a linha real de Judá, é claro que foi em Jeconias. Note-se, também, como o Senhor, pela boca de Jeremias, ordenou que esse rei fosse privado de filhos e que ninguém da sua semente se assentasse no trono de Davi, nem reinasse mais em Judá (Jr 22.30): Os homens depois de Jeconias, desprovidos de filhos, são os herdeiros mais próximos, como também os são em 1 Cr 3.17. Olhando novamente para as listas em Mateus e Lucas ficamos certos desta conclusão. Os dois nomes que seguem o de Jeconias, Salatiel e Zorobabel estão realmente transferidos da outra genealogia (de Lucas), na qual consta que o pai de Salatiel foi realmente Neri, da família de Natã. Torna-se certo, portanto, que Salatiel, da família de Natã, irmão de Salomão, se tornou herdeiro do trono de Davi quando falhou a linha de Salomão, na pessoa de Jeconias. Assim Salatiel e seus descendentes foram transferidos, como "filhos de Jeconias" para a táboa genealógica real, segundo a lei judaica . Vede Nm 17.8-ll. Depois as duas genealogias coincidem por duas, ou melhor, quatro gerações. Então aparecem seis nomes, em Mateus, que não se encontram em Lucas. A seguir as duas listas concordam no nome de Matã (Mt 1.15; Lc 3.24) a quem são atribuídos dois filhos diferentes, Jacó e Heli; mas somente um e o mesmo neto e herdeiro, José marido de Maria, o reputado pai de "Jesus, que se chama o Cristo." A súmula do assunto, então, é que Lucas dá a táboa genealógica de Jesus Cristo, como filho legal de José, segundo Seu nascimento. Mas Mateus dá a lista dos herdeiros ao trono."
Infere-se daí que a importância da filiação terrena de Jesus, não estava só em Maria, mas principalmente em seu esposo José, dado a sua descendência Davídica.
Maria reunia as qualidades que a qualificavam a ser a escolhida e agraciada por Deus, para que no seu ventre fosse gerado o Salvador do mundo, porque estava desposada com um descendente de Davi, e encontrava-se ainda no período que à luz do Direito Romano é chamado de esponsais, sendo portanto virgem.
Na Bíblia, a noiva era algumas vezes chamada de esposa, em virtude do noivado ser regido por um pacto realizado entre as duas casas envolvidas, cujo selo correspondia a um dote que o noivo dava previamente à família da noiva, como uma compensação pela entrega da filha no tempo determinado (ver Gn 24.53; 29.18-21).
Desta forma o noivado era insolúvel, e não se admitia traição por parte da noiva, sendo por isto que, apesar da Bíblia não estabelecer regras sobre noivados, estabelece contudo, sanções para violação à fidelidade devida pela noiva (Dt 22.23-27).
Esta prática era costume em todo oriente próximo. E era também regida pelo Direito Romano, que chamava o período de noivado, de "esponsais", sendo que durante este período, os noivos permaneciam nas casas dos seus pais e não era permitido contacto sexual entre ambos.
Assim, através de Maria, Deus cumprira a promessa feita no Éden, de que Ele nasceria da semente da mulher(Gn 3.15); cumprira a profecia dada por Isaías, de que nasceria de uma virgem (Is 7.14); e através do seu casamento com José, cumprira também a profecia dada por Jacó (Gn 49.10), e ratificada ao longo da história de Israel, de que Ele nasceria da tribo de Judá, da descendência de Davi (Sl 60.7; l08.8; Is 11.1; At 13.23).
Em Lc 1.46-55, vemos Maria glorificando ao Senhor, em agradecimento pela bem-aventurança de ter sido gerado no seu ventre o Salvador. Reconheceu que isto foi o cumprimento da promessa de Deus dada aos pais, por misericórdia demonstrada a Abraão e sua posteridade (Lc 1.54,55).
Portanto nenhum mérito especial havia da parte dela (Lc 1.48). Apenas Deus estava cumprindo a sua promessa dada a Israel, de quem ela era descendente, juntamente com toda nação (Lc 1.55). Tudo foi um ato da graça de Deus (Lc 1.28-30). E Graça quer dizer: favor imerecido (Ef 2.5-9).
De acordo com o que está escrito em Mt 1.25, Maria permaneceu virgem durante toda a sua gravidez.
Entretanto, pelo que está declarado em Lc 2.21-24, podemos entender que Jesus nasceu através de um parto normal, e tendo sido o filho primogênito, foi Ele quem, segundo a linguagem Bíblica, rompeu a madre (compare: Ex 13.15; Lv 12.1-8; Lc 2.21-24). E se com o parto rompeu-se a madre, rompeu-se consequentemente, o hímen também, terminando assim a virgindade de Maria.
E o resultado disto é que todos os quatro Evangelistas são unânimes em afirmar que José e Maria tiveram filhos (Mt 1.25; 12.46,47; 13.55,56; Mc 3.31,32; 6.3; Lc 8.19,20 Jo 2.12; 7.2-5; At 1.14; Gl 1.19). E esta era uma das causas porque os seus perseguidores não criam em Jesus: eles conheciam a sua família, conheciam seus pais e irmãos e irmãs, e por isto não aceitavam que Ele dissesse que veio dos céus (Mt 13.55,56; Jo 6.42).
Fonte: www.adcandel.com.br
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