Os cenários dos tempos finais normalmente são pintados de forma sombria: guerra nuclear, crise da economia mundial, catástrofes da natureza, epidemias, destruição do meio ambiente, manipulações genéticas... Além disso tudo, os cristãos ainda têm medo do reino do anticristo. Tais prognósticos aumentam o pessimismo, especialmente no limiar do terceiro milênio, o que parece aumentar os temores. Também entre os cristãos, principalmente no mundo ocidental, pessimismo e resignação se alastram. Onde está a bendita esperança da cristandade? Onde está a certeza inabalável de um futuro esplêndido e glorioso? Perdemos o otimismo. Será que isso está acontecendo porque quase não esperamos mais concretamente pelo acontecimento mais significativo na cronologia da Igreja? Os primeiros cristãos eram inspirados e impulsionados por essa espera. Estamos falando do "arrebatamento" de todas as pessoas que crêem em Jesus Cristo, acontecimento quase totalmente esquecido por grandes parcelas da cristandade. Parece que a teologia moderna de crítica à Bíblia fez seu trabalho bem feito. Não é de admirar que as doutrinas "exóticas" da Bíblia quase não sejam mencionadas, pois até verdades tão fundamentais como o nascimento virginal e a ressurreição física de Jesus são postas em dúvida e rejeitadas como antiquadas. Apesar disso, essa doutrina "exótica" existe na dogmática de Paulo e Pedro, os dois teólogos mais importantes do cristianismo. Pedro certamente previu as dúvidas e os pensamentos modernos dos críticos da Bíblia quando escreveu aos crentes: "tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação" (2 Pe 3.3-4). Pedro deu uma resposta dupla. Primeiro: "Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia" (v.8). Segundo: "Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (v.9).
Então, de que consiste concretamente essa espera que está sendo posta em dúvida, que quase não é mais crida e que até é ridicularizada? A doutrina do "arrebatamento" é tão sensacional e incomum que Paulo a descreve com a palavra "mistério": "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1 Co 15.51-52). Na primeira carta aos tessalonicenses Paulo entra ainda mais em detalhes sobre esse acontecimento misterioso: "Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras" (1 Ts 4.15-18).
O "arrebatamento" dos crentes é uma espera animadora e otimista. Quando essa esperança e essa perspectiva nos faltam, as nossas expectativas em relação ao futuro serão distorcidas. Então os prognósticos pessimistas sobre os tempos finais e o medo do futuro encontram terreno fértil em nós. Os cristãos não esperam por uma guerra nuclear, nem por uma crise econômica global, nem por catástrofes no meio ambiente, nem pelo governo pavoroso de um ditador mundial (o anticristo). Cristãos verdadeiros esperam pelo milagre do "arrebatamento". Pelo fato desse acontecimento trazer consigo a realização dos sonhos mais ousados, trata-se de uma esperança muito animadora e consoladora. A perspectiva é emocionante: num momento – num piscar de olhos – ir ao encontro do Senhor junto com muitos outros crentes num corpo transformado "a meio caminho" do céu. Mas o "arrebatamento" somente é emocionante em sentido positivo se o levarmos a sério e contarmos com o fato de que ele pode acontecer a qualquer momento. A qualquer momento?! Sim! Os primeiros cristãos viviam nessa expectativa. E eles esperavam pelo arrebatamento mesmo sendo suficientemente realistas para levar em conta que Deus tem uma maneira diferente de contar o tempo, e que um acontecimento assim tão grandioso pode perfeitamente ser adiado por um ou dois "dias divinos" – porque Deus é misericordioso e quer que o maior número de pessoas seja salvo.
Mas o "arrebatamento" também é uma espera muito sóbria. Ela anula a idéia corrente entre os cristãos nominais ("vamos todos para o céu"). Nem todos serão "arrebatados" para o céu. Muitos permanecerão aqui. Esse momento atingirá um mundo pasmo e despreparado como um choque paralisante. Certamente muitos líderes eclesiásticos e teólogos "cristãos" terão dificuldades para explicar o ocorrido. Mas dessa maneira drástica e espetacular serão levadas deste velho mundo somente as pessoas que confiaram em Cristo nesta vida, que "apostaram" nEle e decidiram viver e morrer com Ele. O "arrebatamento" manifestará repentinamente quem era e quem não era cristão. Essa nitidez nos falta hoje em dia. A confusão dentro das igrejas e comunidades cristãs, que hoje em dia nos fazem supor que está "dentro" apenas aquele que "faz parte" do grupo, que consta da lista de membros, terá seu fim quando Jesus buscar os que realmente são dEle. Essa separação acontecerá de maneira muito dramática, porque dividirá igrejas, famílias e casais. Jesus a descreve da seguinte maneira: "Digo-vos que, naquela noite, dois estarão numa cama; um será tomado, e deixado o outro; duas mulheres estarão juntas moendo; uma será tomada, e deixada a outra" (Lc 17.34-35).
O critério para "ser tomado" por Jesus quando o arrebatamento acontecer é o mesmo que se aplica para morrer "salvo": a autenticidade da fé. Fé representada ou hipócrita, cristianismo nominal e de aparência serão desmascarados como falsificações e imitações baratas. A advertência de Jesus em relação ao engano próprio é tão atual no limiar do terceiro milênio como foi no começo da contagem do tempo "depois de Cristo": "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus" (Mt 7.21).
Ainda resta a pergunta delicada a respeito de "quando" o arrebatamento acontecerá. Existem pontos de referência que nos anunciam a "data do arrebatamento"? Existem manifestações que podem servir como indícios precursores dos acontecimentos dos tempos finais? Devemos ater-nos a um princípio: não se pode calcular a "data do arrebatamento", e qualquer tentativa nesse sentido é falsa e condenada ao fracasso. De maneira inequívoca o próprio Senhor Jesus fechou as portas para qualquer especulação a esse respeito: "Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai" (Mt 24.36).
Contudo – e apesar dessa advertência – Jesus esclarece Seus seguidores sobre o que deve acontecer antes que Ele volte. Examinando atentamente esses "precursores do fim", percebemos seis áreas cujo desenvolvimento deve ser observado com atenção:
1. Um aumento de guerras, rumores e perigos de guerras com a simultânea intensificação de esforços pacifistas. O auge desse desenvolvimento acontecerá no Oriente Médio e em Israel.
2. Um aumento drástico de terremotos e outros tipos de catástrofes da natureza.
3. A apostasia em massa da fé verdadeira no seio da cristandade, favorecida por fortes e inúmeros "enganos" e falsas doutrinas.
4. A decadência dos valores morais e das normas tradicionais na sociedade. Um crescente abandono da ética e um progressivo hedonismo (= doutrina filosófica segundo a qual a maior bem-aventurança humana é a busca do prazer).
5. O desenvolvimento de uma "nova ordem mundial" com um esforço maciço de globalização, cujo resultado final será um governante mundial anticristão.
6. O reaparecimento de Israel como povo e nação.
Este último indício precursor do fim é especialmente interessante, porque é muito concreto e pode ser conferido com facilidade. Os primeiros cinco sinais permitem meramente que se reconheçam tendências, sem contudo ligá-las a um acontecimento histórico concreto e específico. Mas o último indício de que Jesus poderá vir muito em breve para buscar Sua Igreja é um fato histórico, algo que pode ser comprovado, e que desde 1948 é uma realidade visível.
Já o profeta Daniel teve de falar muito sobre "as últimas coisas". Ele não pôde classificar muito bem certas coisas que viu e ouviu nas visões que teve. Certamente ele teria gostado muito de conhecer a cronologia exata dos fatos que estavam por vir. No fim do seu livro, um anjo fez a pergunta decisiva em lugar de Daniel: "Quando se cumprirão estas maravilhas?" (Dn 12.6). A resposta é surpreendentemente concreta e clara: "...quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão" (v. 7).
Muitos comentaristas vêem na figura da figueira, que a Bíblia utiliza muitas vezes, um símbolo de Israel. Caso eles tenham razão, as palavras de Jesus em Mateus 24.32-35 têm um significado especial para a nossa época: "Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão." (Daniel Siemens - http://www.chamada.com.br)
Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, novembro de 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário